quinta-feira, 16 de setembro de 2010

O jornalista Roberto Marinho, presidente das Organizações Globo, nasceu no dia 3 de dezembro de 1904, em São Cristóvão, no Rio de Janeiro. Era filho do também jornalista Irineu Marinho e de Francisca Pisani Marinho.
Estudou na Escola Profissional Sousa Aguiar e nos Colégios Anglo-Brasileiro, Paula Freitas e Aldridge, no Rio.
Casado desde 1984 com Lily de Carvalho, sua terceira mulher, foi com Stela Marinho que Roberto Marinho teve quatro filhos: Roberto Irineu, José Roberto, João Roberto e Paulo Roberto. 

O Jornalista e Presidente das Organizações Globo, teve sua última aparição pública em dia 29 de julho, quando participou de uma missa comemorativa dos 78 anos de fundação do jornal "O Globo".

Roberto Marinho, tornou-se um ícone do Jornalismo, sendo um referencial para muitos!
Sua trajetória, é um marco na história da imprensa brasileira, orgulho de uma nação, que deixa experiências, lições de vida e Saudades!



Foto: Marco Antonio Resende


-Nenhum brasileiro acumulou tanto poder ao longo do século 20 como o jornalista e empresário Roberto Marinho, criador do maior conglomerado de mídia e entretenimento do Brasil.
Seu império começou a ser erguido a partir do jornal "O Globo", herdado do pai, Irineu Marinho, e cresceu sem interrupção ao longo de sete décadas.
Com uma fortuna pessoal de US$ 1 bilhão de dólares, ele consta da lista dos homens mais ricos do mundo elaborada pela revista "Forbes".
A história das Organizações Globo pode ser dividida em três grandes fases. A primeira delas começa em 1925, com o lançamento do "Globo", percorre os anos 30 e 40, com o sucesso das revistas de quadrinhos norte-americanos, e passa pela aquisição da rádio Globo (44).
A segunda começa em 1965, quando entra no ar a primeira emissora de TV, que se tornaria porta-voz do regime militar.
A terceira começa em meados dos anos 90, quando o grupo abre o capital, investe em novas mídias e dá início ao processo de sucessão de Marinho.
O começo
Roberto Pisani Marinho nasceu no Rio de Janeiro no dia 3 de dezembro de 1904. Seus pais --Irineu Marinho Coelho de Barros e Francisca Pisani Barros-- tiveram cinco filhos (três homens e duas mulheres).
Irineu Marinho foi um jornalista importante do início do século 20. Fundou, em 1911, "A Noite", um jornal de oposição que logo conquistaria a liderança no mercado de vespertinos.
Em 29 de julho de 1925, lançou "O Globo", com duas edições diárias e uma tiragem inicial de 33.435 exemplares. Roberto Marinho tinha 20 anos e foi trabalhar com o pai, como repórter e secretário particular.
Vinte e um dias depois, Irineu Marinho morreu de infarto, enquanto tomava banho. Instado por sua mãe a assumir a direção do jornal, Roberto Marinho preferiu confiá-la a um colaborador do pai, Euricles de Matos, enquanto continuava seu aprendizado dentro do jornal.
Apenas em maio de 1931, quando Euricles de Matos morreu, Roberto Marinho assumiu definitivamente a direção do jornal.
Tinha então 26 anos. Fizera os estudos primários em escolas públicas, depois cursara uma escola profissionalizante e interrompera o curso de humanidades para trabalhar com o pai no "Globo". Não chegou, portanto, a concluir curso superior.
"O Globo" surgiu como um jornal noticioso, em oposição ao jornalismo partidário que ainda se praticava na época, e defensor, simultaneamente, de causas populares e da entrada no país de capital estrangeiro.
"O Globo" apoiou o governo provisório instituído pela Revolução de 30 e, em 1932, a Revolução Constitucionalista.
Com posição editorial sempre cautelosa, fez do combate ao comunismo uma de suas marcas.
O jornal fez restrições ao golpe que gerou o Estado Novo (1937), mas Marinho participou do Conselho do Departamento de Imprensa e Propaganda, responsável pela censura a jornais.
Na Segunda Guerra Mundial, "O Globo" foi a favor do rompimento com a aliança da Alemanha, Itália e Japão e tomou posição a favor do fim da ditadura de Getúlio Vargas.
Embora o jornal fosse o cartão de visita de Marinho, o crescimento financeiro do grupo se deu por causa da edição de gibis, histórias em quadrinhos norte-americanas e de empreendimentos imobiliários.
Em dezembro de 1944, Roberto Marinho comprou a rádio Transmissora, da RCA Victor, e inaugurou sua primeira emissora, a rádio Globo.
Com a eleição de Vargas, passou a lhe fazer forte oposição. Em 53, o jornal fez campanha contra a criação da Petrobras.
Naquele mesmo ano, a rádio Globo foi franqueada ao jornalista Carlos Lacerda (1914-1977), que a usou para atacar Vargas e os empréstimos do governo a Samuel Wainer (1912-1980) para o lançamento do jornal "Última Hora". Embora o próprio "Globo" tenha se beneficiado de empréstimos oficiais.
O suicídio do presidente, em agosto de 54, provocou grande comoção popular, durante a qual duas caminhonetes da rádio Globo e dois caminhões do jornal foram incendiados.
Em 1955, elegeu-se Juscelino Kubitschek (1956-61), a quem Marinho fez oposição moderada e de quem ganhou a primeira estação de TV, a Globo do Rio.
Na eleição seguinte, apoiou Jânio Quadros, mas em seguida discordou de sua política externa e se decepcionou com a renúncia, em 1961.
Ele inicialmente foi tolerante com o sucessor de Jânio, João Goulart (PTB), mas logo passou a conspirar para derrubá-lo. Colocou seus veículos à disposição da oposição e apoiou o golpe militar de 1964.
No entanto, foi durante o governo de João Goulart que Roberto Marinho ganhou sua segunda concessão de TV, a Globo de São Paulo.
Os militares
As Organizações Globo, "integradas no processo revolucionário", deram seu total apoio aos governos que se estabeleceram a partir de 64.
Sob o regime militar, Marinho deu um salto decisivo na expansão de seus negócios ao inaugurar, em abril de 65, a TV Globo do Rio. Seu jornal estava entre os mais vendidos na cidade e a rádio era líder de audiência.
A TV Globo se firmou rapidamente por três razões: um acordo financeiro e operacional com o grupo norte-americano Time-Life, a colaboração com o regime militar e o declínio das TVs Tupi e Excelsior.
O acordo com o grupo Time-Life (injeção do equivalente hoje a US$ 25 milhões, mais assessoria técnica e comercial) recebeu inúmeras críticas, porque Marinho ignorou o artigo 160 da Constituição de 1946, que vetava a participação acionária de estrangeiros em empresas de comunicação.
O relatório da Comissão Parlamentar de Inquérito criada para investigar o acordo concluiu que a Constituição fora de fato desrespeitada, mas o procurador-geral da República, em 67, e o presidente Artur da Costa e Silva, em 68, decidiram que a operação havia sido legal.
A TV Globo conquistou os cariocas no verão de 1966, quando fez com exclusividade a cobertura ao vivo das enchentes que deixaram dezenas de mortos e feridos no Rio.
A idéia da cobertura ao vivo foi do executivo Walter Clark (1936-1997), que viria a implantar, nos anos 70, o famoso "padrão Globo de qualidade".
A "lua-de-mel" da emissora com o público duraria até 82, quando a Globo foi identificada com a tentativa de se impedir a vitória de Leonel Brizola para o governo do Rio, no episódio conhecido como Caso Proconsult.
Roberto Marinho teve grandes adversários, como Assis Chateaubriand (1892-68), Carlos Lacerda, Samuel Wainer. Brizola foi outro desafeto de décadas. Em 15 de março de 94, o locutor Cid Moreira leu, no Jornal Nacional, texto de Brizola, que ganhou na Justiça um direito de resposta. "Tudo na Globo é tendencioso e manipulado", teve de afirmar o locutor.
A TV Globo ficou associada ao regime autoritário por ter sido porta-voz dos militares e por ter crescido naquele período. As empresas jornalísticas do grupo se adaptaram às regras impostas pelos governantes: o noticiário político desapareceu e o econômico fazia eco aos "milagres" de Delfim Netto e sucessores. Caso célebre de colaboração foi "Amaral Neto, o Repórter", programa em que supostos documentários ajudavam a construir a imagem positiva do regime.
Em 1972, o então presidente Emílio Médici chegou a afirmar: "Sinto-me feliz todas as noites quando assisto ao noticiário. Porque, no noticiário da TV Globo, o mundo está um caos, mas o Brasil está em paz".
Esse tipo de procedimento tendencioso acabou permeando o conteúdo editorial dos veículos de Marinho até a década de 80, já no correr do processo de transição democrática.
A mudança de rumo
Em 1983, Roberto Marinho começou a mudar os rumos de seus compromissos políticos. Naquele ano, ele informou ao presidente João Baptista Figueiredo (1979/ 85) que daria apoio a um projeto que previsse a alternância de poder no governo federal.
Mas, no primeiro semestre de 1984, a Rede Globo ignorou completamente as manifestações populares em favor de eleições diretas para presidente da República. Somente a partir do comício da Candelária, no Rio, quando a campanha já tinha se consolidado e eram grandes as pressões e as hostilidades contra a emissora, a TV transmitiu reportagem completa, ao vivo.
Com a derrota das Diretas-Já, a disputa pela sucessão de Figueiredo foi para o Colégio Eleitoral. Marinho passou, então, a apoiar a candidatura moderada de Tancredo Neves (PMDB) contra Paulo Maluf (PDS). Tancredo foi eleito pelo voto indireto, mas morreu antes de tomar posse.
Roberto Marinho manteve sua influência no governo herdado por José Sarney (1985/90): nomeou os ministros Leônidas Pires Gonçalves (Exército) e Antonio Carlos Magalhães (Comunicações) e influiu na escolha de titulares da área econômica, como Maílson da Nóbrega.
Com Sarney, a família Marinho conseguiu mais quatro concessões de TV.
A má imagem
A imagem politicamente antipática do grupo nasceu durante o governo militar e se cristalizou no início da década de 80, quando se acelerou o processo de redemocratização.
Casos como as coberturas parciais e enviesadas das greves dos metalúrgicos do ABC (79), da eleição para o governo do Rio de Janeiro (82), a relutância na cobertura da campanha das Diretas-Já (83/84), a polêmica edição do debate entre os candidatos a presidente Fernando Collor e Lula (89) marcaram não só a imagem da emissora como de todo o grupo de Marinho.
O slogan "O povo não é bobo, abaixo a Rede Globo" vem, desde então, sendo repetido em diversos episódios históricos.
Na eleição presidencial de 89, Marinho apoiou Fernando Collor de Mello. O segundo turno foi disputado por Collor e Lula. O último debate foi transmitido ao vivo pela Globo. Mas, no "Jornal Nacional", a emissora apresentou uma edição do debate francamente favorável a Collor, que teve um minuto e 12 segundos a mais de tempo de exposição. Era uma evidência da parcialidade da emissora.
Collor e Marinho se entenderam até agosto de 92, quando a campanha pela destituição do presidente já tinha sido encampada por toda a sociedade.
Em 1994 e 1998, Roberto Marinho apoiou a candidatura de Fernando Henrique Cardoso.
A partir de 1995 as Organizações Globo iniciaram um processo de reconstrução de sua própria imagem. A TV Globo, que então completava 30 anos, mudou a orientação jornalística, em busca de um noticiário mais isento e despolitizado, e inaugurou o Projac (Projeto Jacarepaguá), maior complexo de estúdios, auditórios e produção televisiva da América Latina.
A construção do Projac, aliás, foi cercada de polêmica porque o empreendimento recebeu empréstimo de US$ 38 milhões da Caixa Econômica Federal, operação que contrariou parecer técnico da CEF e que foi questionado na Justiça.
A partir de 1995, passou a ficar mais nítida a dificuldade enfrentada pela emissora para manter os mesmos índices de audiência e sua liderança em horários estratégicos.
Vencido pela idade, Roberto Marinho foi participando cada vez menos das atividades de suas empresas. Em depoimento gravado no final de 2000, a memória já estava fraca e seletiva, fixada apenas em "O Globo", o vespertino de Irineu Marinho que deu origem ao império.

domingo, 1 de agosto de 2010

DISCURSO DE POSSE NA ABL - 1993

Minhas senhoras
Meus senhores
Meus amigos
Senhores acadêmicos

Ao longo de sessenta anos de convívio com Austregésilo de Athayde, ao analisarmos os problemas e inquietações que vinham desaguar na redação em que cada um exercia o ofício que nos identificava, jamais nos separamos, após um franco debate de idéias, sem um acordo de julgamento.
A única vez em que o velho e querido companheiro não admitiu contestação foi quando, ao receber a carta em que alinhei os motivos que me induziam a resignar à generosa indicação do meu nome para a Academia, decidiu não apreciá-la.
Surpreso, mas empenhado em preservar uma amizade e uma admiração de toda a vida, assumi o desafio de superar os meus méritos para vir ocupar uma cadeira ao vosso lado.
A sua ausência, neste momento, traz-me a convicção de que Austregésilo pressentiu que era aquele o nosso último encontro e portanto, não dispunha de tempo para discutir o que se lhe afigurava menos uma homenagem à minha pessoa, do que a convocação para o cumprimento de um dever.
Na verdade, como presidente desta Casa, Austreségilo imprimiu-lhe uma orientação pela qual, ampliando e aperfeiçoando o cultivo das letras e das mais diversas atividades artísticas, insistiu em conciliá-las com a sua maior difusão por todos os segmentos da sociedade brasileira.
O país não lhe parecia necessitado apenas de uma distribuição mais justa da renda econômica, como também de uma participação mais abrangente na formação do nosso patrimônio cultural.
Nesse sentido, quando se referia à importância da cultura de massa propiciada pela expansão da mídia eletrônica, estimulava as minhas atividades de homem de comunicação, reconhecendo-me o cuidado primordial de procurar servir à massa, sem desservir à cultura. Por essa razão, considerou imprescindível mobilizar os meus recursos pessoais e institucionais para dar continuidade a essa tarefa no plano acadêmico.
Permiti-me assim, que as minhas primeiras palavras nesta tribuna, repassadas de saudade, sejam voltadas para a sua memória, respondendo à sua chamada: "Presente, companheiro".
Senhores acadêmicos
O mestre que iniciou a minha formação de jornalista foi Irineu Marinho, meu pai. Por seu intermédio, desde a adolescência, tomei conhecimento das questões que agitavam o ambiente de trabalho não só na Gazeta de Notícias, da qual foi secretário, mas na atmosfera comum dos grandes órgãos da época.
Guardo a lembrança de que entre as matérias de maior interesse dos leitores, além das questões políticas, ressaltavam-se os debates literários, as atividades dos escritores, não apenas no lançamento de suas obras, como nos seus encontros e conferências, mantendo-se assim uma tradição de apreço aos valores espirituais que remontava aos últimos anos do século passado.
Vale recordar que a geração boêmia de grandes poetas e romancistas da década inicial deste século tinha suas crônicas ou folhetins estampados na primeira página de nossos jornais, caracterizando o Rio de Janeiro como a capital cultural do país.
E no momento em que, incentivados pelas propostas pioneiras de Medeiros e Albuquerque e Lúcio Mendonça, empolgaram-se pela idéia da fundação desta Casa, concretizada por força da autoridade de Machado de Assis, a sua primeira reunião preparatória ocorreu na redação da Revista Brasileira, então dirigida por José Veríssimo, instaurando-se afinal solenemente naquelas mesmas salas em 1897.
Não há exagero em se dizer que a história da Academia pode ser pesquisada nos registros dados pela imprensa aos seus eventos marcantes. Assim aconteceu quando, em 1906, o ministro Seabra encaminhou projeto de lei cedendo instalações no Silogeu para sede da instituição.
Naquele mesmo ano, a controvérsia sobre a eleição de Mario de Alencar refletiu-se em acirrada polêmica envolvendo a Notícia e O País. Também os incidentes verificados na posse de Euclides da Cunha, atingindo o presidente Afonso Pena, foram debatidos em todos os jornais.
As colaborações de Bilac, Laet, Coelho Neto e outros eminentes acadêmicos elevavam o estilo redacional de vários órgãos, destacando-se no Correio da Manhã uma coluna de crítica cuja autoridade se manteve de José Veríssimo a Álvaro Lins. Dessa maneira os encontros semanais na Academia prolongavam-se na arena das colunas diárias. Essa integração da literatura com o jornalismo trazia à memória a previsão de Afrânio Peixoto de que o jornal tendia a substituir o livro.
Não é de admirar que quando Irineu Marinho fundou A Noite, assinalando uma nova época na imprensa brasileira tenha desde logo aberto suas colunas a escritores da altura de Felinto de Almeida.
E em julho de 1925, com o surgimento de O Globo, meu pai reiterou a sua vívida consciência de que, na alma nacional, interligam-se os objetivos concretos de natureza política e econômica, com os anseios espirituais de ordem artística, cívica e religiosa. Com isso, assegurou ao novo órgão - embora abalado nos seus primeiros dias pela perda de seu fundador - uma identificação com a opinião pública que, acredito, constitui o segredo de sua atuante presença em todas as fases da história republicana em mais de seis décadas.
Nos anos 20, acompanhamos os movimentos políticos e militares que exigiam uma prática mais autêntica da democracia que iriam implantar-se com a Revolução de 30. Simultaneamente, preocupamo-nos em registrar que aquele anseio de renovação estendia-se ao plano cultural, fermentando a partir da exposição de Anita Malfatti e chegando afinal ao desafio da Semana de Arte Moderna.
Não escapou porém à nossa observação que o processo só atingiu a sua culminância na sessão da Academia em que se enfrentaram Graça Aranha e Coelho Neto.
Essa circunstância deixou bem claro que esta Casa tem sido o centro fundamental de ressonância da evolução do país no plano cultural. Machado de Assis já lhe atribuía, nos primeiros dias da República, o papel de resguardar a unidade nacional no âmbito literário, em confronto com o caráter divisório da federação política.
Na própria seleção dos patronos e dos membros fundadores refletiu-se esse senso de responsabilidade, inspirado na convicção de que o artista só atinge o ideal de universalidade quando se alicerça no compromisso com a sua nacionalidade.
É o que constato ao me voltar para as grandes figuras que me antecederam na cadeira que hoje passo a ocupar.
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Varnhagen, historiador e diplomata, soube ir às fontes para documentar o nosso passado. Agiu como os repórteres na busca dos fatos, antes de se atrever a interpretá-los. Graças ao seu espírito de pesquisa, muitas informações refluíram dos arquivos, as quais, enriquecidas pelas notas eruditas de Capistrano de Abreu e Rodolfo Garcia, redundaram nos cinco tomos fundamentais da História Geral do Brasil, obra maior do meu patrono nesta Casa.
É oportuno acentuar aqui o ponto de encontro entre o jornalista que capta a verdade do presente e o historiador que procura captá-la no passado. A verdade factual é, assim, para ambos, a substância mesma do testemunho escrito. Uns e outros estão a serviço da mesma causa. E isso explica por que Oliveira Lima, fundador da cadeira em que me emposso, conciliou as duas vocações, sem deixar de ser diplomata a seu modo, sem transigência e concessões.
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O sucessor de Oliveira Lima, Alberto de Faria, veio de jornal, como colaborador do Jornal do Comércio, para abrigar-se sob as glórias da Academia, graças ao livro magistral em que soube trazer à luz o caminho de lutas de Mauá em favor do progresso do país.
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Dois historiadores, Rocha Pombo em 1933 e Rodolfo Garcia em 1934, vieram depois. O primeiro foi também poeta, romancista e contista, além de servidor da narrativa histórica, mais didática que reflexiva. O segundo, companheiro de Capistrano, soube ser, nos seus relatos do nosso passado, um modelar escritor, na limpidez, na sobriedade e até no bom humor de seus textos.
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Se esses dois antecessores pertencem ao meu mundo, porque os vi, e com eles cruzei os meus caminhos, aquele que se seguiu acha-se incorporado às minhas saudades. Refiro-me a Elmano Cardim, que sempre soube ser um modelo de amigo e companheiro, desses que nascem para deixar de si a recordação a que se associa a mais pura emoção. Seu estilo de jornalista constituiu para mim uma lição inesquecível.
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Eis-me aqui, agora, diante de Otto Lara Resende, meu antecessor imediato nesta Academia e companheiro de tantos anos. Singular como escritor e como figura humana.
Foi sempre o jornalista que, embora voltado para o momento que passa, orientou-se por valores perduráveis. Nunca renunciou à liberdade a serviço da verdade. Liberdade de denunciar o erro, o embuste, a corrupção, enfim, a falsificação. Como também a de aplaudir, a de reconhecer eventuais equívocos, a de lutar permanentemente por uma sociedade mais justa.
Repartindo-se entre as letras e o jornal, soube repetir a lição de Alencar e Machado. O que lhes saiu da pena, mesmo quando a inspiração adveio do fato essencialmente jornalístico, ganha foro de perdurabilidade, a exemplo do que fez o mestre de Dom Casmurro quando nos falou do sineiro da glória. Ou ao recordar o velho Senado, numa página de antologia.
Otto constituiu um exemplo da boa formação humanística que sempre nos veio das montanhas de Minas Gerais. Ali se familiarizou com os clássicos. Aprendeu a dar à palavra o aprimoramento da obra de arte, empregando-a no sentido exato, no ritmo do período, numa elegância de estilo sem excessos nem derramamentos.
Quem conheceu Otto Lara Resende, por seus livros, artigos e reportagens, não apreendeu completamente a sua personalidade, visto que era sobretudo o companheiro do bom convívio, com a arte e o gosto de conversar manifestado na frase de espírito, na reminiscência feliz, na murmuração jovial em que se destacava pela espontânea vivacidade de seus reparos inesquecíveis.
Essa arte de conversar ele a trouxe para o Rio, juntamente com a roda de amigos de Belo Horizonte - Carlos Castelo Branco, Fernando Sabino, Paulo Mendes Campos, Hélio Pellegrino.
Isso explica por que Otto, o grande conversador do grupo, nos deixou como escritor uma bibliografia pequena, embora de grande dimensão literária. Alinham-se nela, um romance, O braço direito e cinco volumes de novelas e contos: O lado humano, 1952; Boca do inferno, 1962; O retrato na gaveta, 1962; A cilada, 1965; e As pompas do mundo, 1975.
Colaborador dominical de O Globo, sabia ser o comentarista agilíssimo da vida corrente. E quando passou a atuar no jornalismo diário, em sua coluna na Folha de São Paulo nos últimos anos, mantendo o tom coloquial que lhe era próprio, deixou indelevelmente registrada a vivacidade do seu espírito para todos aqueles que não tiveram com ele a oportunidade e o privilégio de um diálogo pessoal.
Senhores acadêmicos
Agradeço ao meu dileto e fraternal amigo Josué Montello ter aceito a incumbência de me transmitir nesta solenidade os votos de boas-vindas desta Casa, além de me haver orientado com sua grandeza de inteligência e coração, nos primeiros passos que me conduziram à vossa presença.
Este estado de espírito deixou-me à vontade para vos fazer uma confidência.
No momento em que me foi entregue em casa o fardão acadêmico, com chapéu bordado e espada, acudiu-me a constrangedora idéia de estar aderindo a uma formalidade anacrônica. Mas logo a impressão se dissipou.
Compreendi que se trata de uma veste que transcende o tempo em que foi criada. Análoga á toga do magistrado, à farda do soldado, ao hábito do sacerdote.
Simboliza a adoção de um compromisso de vida. E justamente esse caráter marca a sua fundamental diferença da fantasia que se usa em datas de festa em portanto, de descompromisso.
Conscientizei-me de estar me comprometendo a partilhar convosco a defesa da dignidade da palavra. Como certa vez observei, a comunicação não é privilégio do homem. Aquilo que nos distingue é a compreensão. Com isso, queremos dizer que não adianta distribuir informações se não estivermos dispostos a discuti-las. Utilizando-se a força dos meios de comunicação, pode-se talvez vencer, mas não convencer. O convencimento exige diálogo, em que nos arriscamos á troca de palavras.
Quando o jornalista atreve-se a imprimir editoriais e comentários, aventurando-se a refletir o pensamento do homem comum, corre o risco atinente à sua profissão.
Quando o cientista, firmado em raciocínios e experiências, formula leis essenciais da natureza ou da sociedade, corre o risco de transmitir a sua concepção do mundo para os homens de seu tempo.
Quando o artista se dispõe a elaborar em prosa ou verso, experiências humanas que reflitam ou transbordem as de sua época, corre o risco da criação.
Nessas diversas modalidades, fica-se sujeito à rejeição ou à consagração. Joga-se assim o destino das vocações na força comunicativa das palavras.
Essa circunstância acrescenta a esta Casa. além da atividade criadora de seus membros, a responsabilidade específica do cuidado com a linguagem.
Não para circunscrevê-la a rígidas normas gramaticais, excluindo-a da comunicabilidade com a fala coloquial. Nem tampouco para jogar levianamente com o vocabulário, a exemplo de alguns dos primeiros exercícios do modernismo que só iriam atingir o ponto definitivo de equilíbrio na obra admirável de Guimarães Rosa.
Por outro lado abre-se nos dias atuais uma nova frente de ameaça às palavras em virtude da sua crescente substituição por imagens eletrônicas ou informes de computadores.
As imagens, sejam diretas ou transmitidas por irradiações, são sinais que nos chegam do mundo, marcando a sua presença em nosso espírito. As palavras são sinais pelos quais impomos e atribuímos ao mundo um sentido espiritual.
Não nos é lícito renunciar a essa primazia.

*
Cabe ainda observar que o computador aumenta a velocidade do pensamento, mas não a sua profundidade. O que é mais grave: a máquina não erra. Enquanto o homem tem a faculdade e o direito de errar.
É um ser essencialmente errante que viaja para o futuro, sem receio de incidir em equívocos no que afirma, pois lhe é sempre possível corrigi-los.
É a esse bom combate, no sentido de colaborar para que não se degrade a nossa língua, reduzindo as nossas fronteiras espirituais, que me disponho, na medida de meus préstimos, a ficar ao vosso lado.
Chesterton dizia que em certas horas de crise, as palavras perdem sentido. Ficam loucas. Na atual perturbação do Brasil não estão enlouquecendo apenas as palavras, mas todos os símbolos nacionais a partir da moeda, estendendo-se ao sistema de segurança pública, à vida urbana, às instituições jurídicas e políticas, á própria Constituição.

sábado, 3 de julho de 2010

É filho do jornalista Irineu Marinho, que morre em 1925, um mês depois de fundar o jornal O Globo, em que Roberto Marinho atuava como repórter aos 21 anos. Recusa-se a comandar o jornal, por sentir-se inexperiente, e nele passa por vários cargos, até assumir a direção, em 1931.

Roberto Marinho Em 1965 entra para o campo da televisão, além de organizar o sistema Globo de Rádio e a Rio Gráfica Editora, que mais tarde se torna a Editora Globo. Em 1977 cria a Fundação Roberto Marinho, com programas de cultura, educação, esporte e preservação do patrimônio histórico nacional. Sob sua direção, a Rede Globo transforma-se na maior cadeia de televisão do país e em uma das maiores do mundo. Produz programas que exporta para mais de 50 países.

Dono de um grande acervo de artes plásticas, apaixonado por caça submarina e hipismo, é fundador também da Sociedade Hípica Brasileira. Em 1993 é eleito para a Academia Brasileira de Letras (ABL). Casado pela terceira vez, passa pouco a pouco o controle das Organizações Globo aos quatro filhos, estando, porém, sempre presente.






Mesmo sem máquinas próprias à época, Roberto Marinho empenhou-se desde o início da redação na rua Bittecourt Silva, no Rio de Janeiro, a fazer do veículo algo muito mais grandioso. Assim, com extrema perseverança, construiu passo a passo O Globo, modernizando-o tanto em linguagem, quanto em tecnologia.

O jornal foi um dos primeiros a apostar em matérias mais abrangentes - de fatos da comunidade até os acontecimentos internacionais. Era “uma nova maneira de ver o mundo”, como dizia.

Um dos passos decisivos foi a transferência do jornal, em 1954, para a rua Irineu Marinho, também no Rio, onde está até hoje. O Globo já estava consolidado e Roberto Marinho expandia a organização à Rádio Globo, criada em 1944 e, em 1965, à Rede Globo de Televisão. Ao longo dos anos, outros jornais e revistas agregaram-se à empresa, sendo seguidos, mais recentemente, pela TV por assinatura e a internet.

No entanto, apesar de ter sido responsável por um conglomerado da comunicação, o orgulho maior de Roberto Marinho era sua profissão de jornalista. Gostava de ser conhecido assim, mesmo que a imagem de empresário bem sucedido se destacasse através de seus inúmeros empreendimentos.

Acima de tudo, era um homem otimista, que transformou essa virtude em um dos grandes trunfos para transformar em realidade seus sonhos. Um deles era o de levar educação e cultura a um número significativo de brasileiros.

Obcecado pelo trabalho, apaixonado pela educação

Embora mantivesse uma rígida rotina de trabalho, Roberto Marinho não deixava de lado seu grande prazer: a arte. Gostava de obras de Honoré de Balzac, Machado de Assis e Eça de Queiroz, na literatura, e de Chopin e Verdi, na música. Apreciava igualmente cinema e teatro, além de ser colecionador de quadros de artistas brasileiros.

Todo este apreço pelo conhecimento conduziu-o a um ideal nobre. Surgia, assim, em novembro de 1977, a Fundação Roberto Marinho, com a meta de oferecer ao país um acesso mais facilitado de assuntos culturais e educacionais, através dos meios de comunicação.

Roberto Marinho faleceu em 2003, aos 98 anos.

Roberto Pisani Marinho (Rio de Janeiro, 3 de dezembro de 1904 — Rio de Janeiro, 6 de agosto de 2003) foi um jornalista[1] e empresário brasileiro. Foi um dos homens mais ricos e poderosos do Brasil. Participou do movimento tenentista, porém foi um dos primeiros a sair do Forte de Copacabana.

Herdou ainda jovem o jornal O Globo, fundado por seu pai, Irineu Marinho em 29 de julho de 1925, o qual ele ampliou, fundando uma cadeia de rádios entre as quais se destacam a Rádio Globo e a Rádio CBN, esta última somente de notícias. Em 26 de abril de 1965,fundou a Rede Globo de Televisão, que se tornou o principal canal de Televisão do Brasil e a quarta maior do mundo. A Rede Globo tem tido um grande desenvolvimento, durante e principalmente depois da Ditadura Militar. É especialmente na produção de telenovelas, que a TV Globo mostrou todas as suas forças, as quais têm sido exportadas para inúmeros países, inclusive a China. Hoje em dia suas empresas formam um império de mídia que tem imensa influência social e política no Brasil.

Esse pool de empresas faz parte do que hoje se conhece pelo nome de Organizações Globo.

Roberto Marinho sempre defendeu o liberalismo econômico, com aliança estratégica com os Estados Unidos. Foi adversário de políticos como Getúlio Vargas, Juscelino Kubitschek, Leonel Brizola e o Lula da Silva. Quando Getúlio Vargas se matou, como presidente da República em 1954, seu jornal foi destruído pela população, quase falindo. Foi acusado de ser o mentor intelectual da Ditadura Militar, apoiada por ele, assim como de manipular as eleições para governador do Estado do Rio de Janeiro, quando Leonel Brizola venceu. Também acusado de mandar nas comunicações brasileiras no governo de José Sarney, quando Antônio Carlos Magalhães, dono de uma afiliada da Globo, foi ministro das comunicações. Em 1989, foi acusado de manipular a edição do Jornal Nacional, após o debate de segundo turno entre Fernando Collor e Lula da Silva, para ajudar Collor a ser eleito presidente. Em 1992, Roberto Marinho, em um editorial do jornal O Globo e no noticiário Jornal Nacional, chamou Leonel Brizola de "senil". Isso valeu direito de resposta a Brizola no Jornal Nacional, que foi lido por Cid Moreira, dois anos depois, em 1994. Com o governo Fernando Henrique, as Organizações Globo passaram por uma grande crise, retirando o nome do jornalista na lista de bilionários da revista Forbes.

Com sua primeira esposa em 1946, Stella Goulart Marinho, teve quatro filhos: Roberto Irineu Marinho, Paulo Roberto Marinho (falecido aos dezenove anos, em 1970), João Roberto Marinho, e José Roberto Marinho. O segundo casamento foi com Ruth Albuquerque, em 1971, já se divorciando da primeira esposa.

Seu último casamento, o terceiro, foi com Lily de Carvalho Marinho, em 1991.

Em 6 de agosto de 2003, aos 98 anos, Roberto morreu num hospital na sua cidade natal.